SAPUCAIA DO SUL/RS

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quinta-feira, 13 de maio de 2010

Na sociedade moderna ocidental, quem não produz, quem não domina os avanços da tecnologia... logo é excluído e taxado de ignorante e inútil. E se tiver idade avançada, o seu destino final é o “asilo dos velhos”, ou, para atenuar um pouco o sentido pejorativo da palavra “velho”, chamam-se estes logradouros de “lar dos idosos”. O artigo que apresentamos, de autoria de Pe. Toninho - PIME, por 19 anos missionário na Costa de Marfim - África, nos ajudará a abrir nossos horizontes para a reflexão sobre os idosos.

O IDOSO É O SÁBIO

Diz o poeta Hampaté Bah, do Mali: “Quando morre um africano idoso, é como que se queimasse uma biblioteca”. Esta frase exprime bem o valor que tem o idoso na sociedade tradicional africana, que tem uma cultura iletrada. O idoso, com a sua sabedoria adquirida nos seus muitos anos de vida, torna-se o transmissor dos valores da cultura tradicional herdada dos seus antepassados.

Essa aula de cultura tradicional é ilustrada sempre através de contos, provérbios ou lendas que se referem aos acontecimentos vividos nos tempos antigos. Constata-se facilmente que a tradição dos antepassados está muito presente na vida do povo, haja visto que, para o africano, é o passado que dá sentido ao presente. O futuro ainda não existe.

Todas as reuniões em nível de comunidade aldeã (julgamento popular, acolhida de uma delegação de visitantes, funerais, celebração da festa da colheita, danças de regozijo…) são ocasiões propícias para transmitir aos presentes a cultura tradicional. O palco para essas reuniões da comunidade aldeã é debaixo de uma árvore bem frondosa, geralmente situada no centro da aldeia.


Um idoso africano dá larvas de cupim à galinha e seus pintinhos, observado pelo Pe. Toninho









Um encontro ou reunião que normalmente duraria meia hora (para nós que somos homens e mulheres apegados ao relógio…), para eles não termina em menos de 2 horas.

Isso porque antes de abordarem o assunto em pauta fazem um preâmbulo de como viveram os antepassados e até mesmo como solucionaram problemas semelhantes. Dessa forma, os idosos são os guardiãs e os transmissores da tradição dos antepassados que, para o povo, é uma lei e a sua observância é sinal de unidade e de vida.

O IDOSO É O CHEFE

O sistema político e social das aldeias é baseado na autoridade do chefe que, com os seus acólitos (grupo de anciãos), tem o dever de dirigir a vida do povo. O chefe da aldeia é sempre um ancião, escolhido da linhagem familiar do antigo chefe (modelo monárquico).

Ele conhece bem a tradição dos antepassados e comanda toda a população da aldeia. Todos, do maior ao menor, escutam bem o que ele diz e a sua autoridade nunca é contestada e nem há indícios de acusação de ser um ditador ou ultrapassado, já que, o que ele diz, vem dos antepassados. Entretanto, no perímetro urbano, esta autoridade do ancião foi abafada pelo poder instituído pela sociedade moderna.

O chefe e seus acólitos têm como missão salvaguardar a tradição dos antepassados, julgar os litígios ou desavenças entre os membros da aldeia, acolher as delegações de visitantes e manter uma boa relação diplomática com as autoridades do governo atual. Os franceses, no período da colonização, instituíram na Costa do Marfim um poder tradicional paralelo (os chamados chefes de cantões), com a finalidade de enfraquecer a autoridade do chefe aldeão e assim explorar mais facilmente a população. Mas, com a independência conquistada em 1960, estes chefes de cantões perderam o seu poder.

Existe várias categorias de chefe:

= chefe da terra
= chefe do sacrifício (religião tradicional)
= chefe de família (grande família )

O chefe da tribo é a autoridade suprema, sendo também chamado de Rei.

A Igreja católica não poderia ficar de fora desta organização aldeã, por isso o responsável da comunidade cristã também é chamado de chefe cristão.

O IDOSO E A MORTE

Diz um provérbio africano: “A morte do idoso não estraga a morte”. Morrer idoso na África é como se ter uma boa morte. O prolongamento dos anos vividos é sinal de que o idoso foi protegido pelos seus antepassados e que doravante ele também irá habitar na “aldeia dos antepassados”.

A idéia da “aldeia dos antepassados” é muito comum na mentalidade africana, isso porque o povo acredita que os idosos que tiveram uma boa morte e um funeral digno de sua reputação continuam interferindo no mundo dos vivos para ajudar, proteger e defender os habitantes da aldeia. Morrer de improviso ou suicidar-se não é sinal de uma boa morte.

O importante é preparar a própria morte e a celebração do funeral. Portanto, é comum constatar que muitos idosos preparam com bastante antecedência a sua morte. Certo dia um idoso chamou-me no quarto dele e, com uma alegria enorme estampada no seu rosto, mostrou-me o seu caixão fúnebre e os tecidos chiques que seriam utilizados no dia do seu enterro.

Uma vez, levaram-me para dormir num quarto escuro, ao entrar não percebi nada de estranho, mas, com o raiar do dia, vi que havia do lado oposto da cama um caixão fúnebre. Perguntei ao dono da casa o porquê daquilo e ele tranqüilamente me disse que aquele caixão estava reservado para o seu pai que já era idoso. Outros até encarregam pessoas para que se ocupem de preparar o ritual do seu funeral após a morte.

O “termômetro” para medir o quanto uma pessoa foi estimada durante a sua vida terrena é baseado na quantidade de pessoas presentes e no fervor da celebração do ritual fúnebre. Quando morre um chefe, a sua morte não é anunciada imediatamente, às vezes passam meses para o anúncio oficial, dando assim tempo para se fazerem os devidos preparativos.

Então, em vista disso, quando alguém morreu, usam a expressão: “o chefe está com dor no pé”. Assim todo mundo sabe que ele já faleceu, mas ainda é proibido falar ou chorar a sua morte. No dia do anúncio oficial, todo mundo deve chorar um pouco, para compadecer-se da morte do chefe. Para exprimir a compaixão de todos os habitantes da aldeia com a morte do seu chefe, os idosos dizem em linguagem proverbial: “A árvore que dá frutos doces, dá também frutos azedos”.

Pe. Toninho Nunes – PIME

PARA REFLETIR

1.º Qual a diferença, no contexto da sociedade atual, entre o idoso brasileiro e o idoso africano?

2.º Comente a afirmação do poeta Hampaté Bah: “Quando morre um africano idoso, é como que se queimasse uma biblioteca”.


Nosso grupo e comunidade está refletindo e fazendo algo pelas pessoas idosas?


FONTE:http://www.pime.org.br/missaojovem/mjevangincultidoso.htm Acessado em 13/05/2010

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