SAPUCAIA DO SUL/RS

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segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Sim para a auto-estima e não para a discriminação racial

Por: Paula Stange

Cabelo duro, de pico, crespo, pixaim, piaçava, sarará, bombril. Em resumo: cabelo ruim. Quantos adjetivos você, negro ou negra, já deve ter ouvido na vida? Pergunte a todos os seus amigos (principalmente amigas) negros qual a relação que têm com o cabelo e verá que 99% têm problemas em aceitá-lo e chegaram a testar algum método louco de alisamento.

A rejeição costuma ir além, para os traços característicos, a cor da pele, o nariz... Agora imagine como é para uma criança negra lidar com uma auto-imagem tão negativa. Vai ser difícil e dolorido saber se impor com confiança perante uma sociedade cujo padrão estético é loiro-liso-magro-olhos claros.

Os especialistas dão um recado: pais e professores devem educar essas crianças desde cedo a gostarem de si mesmas. É de pequeno que se constrói uma boa auto-estima e se combate o racismo.

Atitude

Nesta reportagem, eles mostram como os adultos devem abordar a temática da igualdade racial dentro de casa e na escola. Qual deve ser, por exemplo, a atitude dos pais quando o filho chega em casa dizendo que foi chamado de negrinho por um colega?

"Ofensas como essa afetam não só o corpo, mas a identidade da pessoa. É uma violência. As crianças não nascem racistas, são educadas para discriminar", observa a psicóloga Maria Lúcia da Silva, do Instituto Amma-Psiquê e Negritude.

Para a professora do Centro de Educação da Ufes, pesquisadora da questão étnico-racial, Dulcinea Benedicto, a escola deve ser um espaço receptivo e ensinar o respeito às diferenças. "Deve estar preparada para lidar com a discriminação. Não achar que é brincadeira e nunca silenciar".

A psicóloga, professora doutora do Instituto de Psicologia da USP e diretora do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert), Cida Bento, diz que os primeiros sete anos de vida são cruciais para a construção da auto-estima da criança. Os pais devem contar histórias, fazer com que ela se orgulhe da sua origem, ajudá-la a se ver como uma figura bonita, importante e capaz.

E fora de casa, como lidar com propagandas, programas televisivos e até livros didáticos que só mostram crianças brancas? "É um embate permanente. O pai tem que conversar abertamente com a criança", orienta.

Chapinha e escova aos 5 anos

"Mãe, não esqueça a chapinha", diz Nayara. Aos 5 anos, ela já é acostumada ao ritual de alisar os cabelos. Faz escova pelo menos uma vez por semana. Claro que, de tão pequena, precisa da ajuda da mãe, que por sorte é cabeleireira.

"Não quero que ela fique escrava da chapinha. Mas não deixo o cabelo dela sem relaxamento. Hidrato, corto as pontinhas para que se desenvolva, cresça", diz Iraci Maria da Silva Araújo.

Antes fosse só vaidade. Iraci tem consciência de que a questão vai além e já virou motivo para dor de cabeça na família. Está preocupada porque a menina não se aceita como é e tem baixa auto-estima.

"Quando ela alisa o cabelo, recebe elogios, fica soltinha, brinca. Ela é inteligente e consegue ver a diferença".

Moradora de um bairro de classe média em Vitória, a dona do salão de beleza se vê dividida entre alisar o cabelo da filha e lhe dar lições sobre a questão racial.

"Ela é negra como eu e o pai dela! Não adianta ir contra a natureza. É a genética! Tem que valorizar, aceitar o cabelo que tem, a cor da pele, o nariz. Mas minha filha é muito novinha para entender essa questão de raça".

Só que não dá para fugir do assunto. Quando Nayara era menor, começou a fazer balé. Ficou pouco tempo porque, segundo a mãe, outra criança disse a ela que "não existem bailarinas negras".

Por essas e outras, a menina já andou questionando a mãe: "Por que Deus me fez assim?". Iraci diz o tempo inteiro que sua filha é linda, mas não adianta a mãe dizer, se o mundo lá fora mostra que não. "O modelo de beleza é loiro, dos olhos azuis. É assim na televisão, nas novelas", critica a cabeleireira.

Na sala de aula, Nayara é a única aluna negra. "Estou atenta, cobro dos professores. Observo se ela não está sendo excluída, recebendo menos atenção. Quero que minha filha seja alguém na vida, tenha uma profissão".

Trancinhas

Visão.

Ellen tem 9 anos e, apesar de aparecer linda e satisfeita na foto, não gosta das suas trancinhas. A mãe, Elizangela David, 24 anos, admite que colaborou para que a menina rejeitasse o próprio cabelo. "Aliso o meu, faço escova. Já usei química no cabelo dela, mas ela é alérgica", conta. A rejeição está dentro da família. "Os primos ficam falando que o cabelo dela é de pico". Sabendo dos prejuízos que isso pode trazer à auto-estima da filha, Elizangela tenta mudar a visão que a menina tem de si mesma. "Mostro negras bonitas que aparecem em revistas, para ver se ela se identifica. Temos várias amigas que usam o cabelo enrolado. Ela está começando a se aceitar mais, mas é difícil", comenta.

Questão racial sempre à flor da pele
Jonatas Nery - 26 anos, universitário

Venho de uma família tradicional de negros protestantes. Lembro que, quando criança, chamava as meninas negras da escola de macacas. Minha avó era muito racista. Tratava os negros como inferiores. E era negra! Fui crescendo e ampliando minha percepção sobre o mundo e a questão racial. Na adolescência, já me perguntava sobre a questão étnica. Comecei a questionar por que, na sociedade, ser negro não é bom. Por que negro é a cara do medo? Por que o negro é o marginal? Por que, nas novelas, o negro é o servente, a cozinheira que passa de cabeça baixa? A maior mentira que dizem é que negro é racista. O negro apenas reflete os valores da sociedade na qual está inserido. A questão racial sempre esteve na minha pele! Falo para a minha irmã não alisar o cabelo, que ela vai ser frustrada o resto da vida dela. As mães deveriam ensinar suas filhas negras a trançar os cabelos, e não alisar! Têm que construir uma imagem positiva do negro, conhecer a cultura negra. O fato é que assumir a negritude é muito difícil.

DICAS DE LEITURA

"O menino marrom" – Ziraldo (Ed. Melhoramentos)
"Menina bonita do laço de fita" – Ana Maria Machado (Ed. Melhoramentos)
"Gostando Mais de Nós Mesmos" – Ana Maria Silva, Maria Lúcia da Silva e Marilza de Souza Martins (Ed. Gente)
"Berimbau" – Raquel Coelho (Ed. Ática)
"Pretinha, Eu?" – Júlio Emílio Braz (Ed. Scipione)

FAÇA O TESTE ABAIXO E VEJA COMO ESTÁ A SUA AUTO-ESTIMA

1 - Se eu pudesse nascer de novo, preferiria nascer branco (a).

( ) sim
( ) não


2 - Quando entro em um local público e olham para mim, penso que é porque sou negro (a).

( ) sim
( ) não


3 - Prefiro ir a lugares freqüentados por negros, pois me sinto mais à vontade.

( )sim
( ) não


4 - Fico sem graça quando vejo alguém referindo-se a um negro com desprezo.

( )sim
( )não


5 - Quando contam uma piada sobre negros, fico quieto (a).

( )sim
( )não


6 - Os negros só se dão bem na música e no esporte.

( ) sim
( ) não


7 - As pessoas mais bonitas são as loiras de olhos azuis.

( ) sim
( ) não


8 - Os negros não sabem aproveitar as chances que têm para melhorar de vida.

( ) sim
( )não


RESPOSTAS

SIM para 7 ou 8 questões: sua auto-estima está baixa, você precisa dar a volta por cima urgentemente


SIM para 3 a 6 questões: sua auto-estima está razoável, mas pode ser melhorada


SIM para 0 a 2 questões: sua auto-estima está elevada. Parabéns!

FONTE:http://www.unidadenadiversidade.org.br/index.php Acessado em 02/11/2009

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